As três mortes de Che Guevara
Flavio TavaresFerido e feito prisioneiro em 8 de outubro de 1967, el Che foi fuzilado de mãos amarradas no dia seguinte, mas de fato começou a morrer muito antes, ainda em Cuba. Sim, lá mesmo, pois é sua vida que explica sua morte e, assim, é preciso saber o que pretendia para entender por que o mataram de várias formas – em Cuba e no Congo – antes de ser executado como prisioneiro do exército boliviano.
Este livro, porém, seria apenas um ensaio baseado no que ele fez, ou em testemunhos, análises ou ilações, se não partisse das minhas próprias observações sobre o Che, ao conhecê-lo em 1961 ao longo da Conferência Interamericana da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Punta del Este. Ou se não se apoiasse no que sua mãe me contara sobre ele, tempos antes. Em livro anterior – Meus 13 dias com Che Guevara – apenas deixei transparecer essas observações e me fixei no significado das dezenas de fotografias que dele fiz, a partir das quais montei um breve perfil do que ele foi e do mundo novo que, em vão, quis construir.
Sem aqueles 13 dias, ainda em pleno auge da Revolução Cubana – antes de tudo o que veio depois –, seria impossível compreender por que o Che se imolou na Bolívia. A partir de pequenos detalhes de sua personalidade e visão de mundo, entendi por que ele saiu às pressas de Cuba e foi dar no Congo, quase enxotado ou literalmente em fuga.
Assim, aqui está, também, um testemunho pessoal em que tento entendê-lo de alto a baixo. Ou de corpo inteiro, como algumas das tantas fotografias que dele fiz, nas quais a ironia do que ele foi transparece até nos lábios ou no olhar.